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Camisa limpa não é resgate histórico

Limpar a camisa do Juventus foi uma manobra de marketing e PR que pouco vai ajudar o Moleque Travesso
Juventus
Reprodução: Instagram Juventus

Até quem não gosta de futebol deve ter sido impactado pela nova camisa da Juventus, o time paulistano da Mooca. Uma cor grená maravilhosa com detalhes dourados e lindas figuras que parecem ser em relevo.

Um trabalho bem executado pela Kappa. Mas para além da beleza da peça, o que mais está chamando a atenção é a falta do patrocinador máster estampado na frente do equipamento. Na verdade, foi uma opção da Whirlpool, dona da marca Consul, junto com a sua agência de publicidade, a DM9, de não ter sua marca estampada na camisa no ano de comemoração do centenário do clube. A parte de relações públicas tem sido bem executada até agora, com muita mídia espontânea atrelada a ação e um certo saudosismo de amantes do futebol pela camisa limpa.

Vamos já endereçar o elefante na sala, pois essa será a tônica dessa opinião: esse tipo de ação só pode ser feito em um time na situação do Juventus, hoje. O clube está a quase 20 anos sem participar da Série A1 do Campeonato Paulista e em um incômodo 10º lugar na A2 desse ano, fora da zona de classificação para a segunda fase. Segundo ou terceiro time de 100% dos paulistanos, a Juventus tem uma boa sede social na zona leste de São Paulo. Tudo isso gera uma baixa rejeição ao clube -só que não se traduz em receitas para o futebol do Moleque Travesso.

Voltando ao começo do meu parágrafo: conseguem imaginar alguma marca renunciando ao espaço máster do seu clube parceiro? Conseguem imaginar Flamengo ou Palmeiras de camisa limpa? O Juventus tem pouquíssimas datas oficiais de jogos esse ano, dado que joga somente o Paulistão A2 e a Copa FPF. Na prática, Consul esta abrindo mão de pouquíssima mídia.

Não me entendam errado, eu sou um crítico da bizarrice que viraram as camisas de clubes no Brasil, com marcas estampadas até mesmo embaixo dos braços – se acompanha minhas colunas por aqui, sabe disso. Ao mesmo tempo, o que aprendi com gestores de times de futebol que estão na linha de frente é que essas receitas podem ser a diferença entre ter dinheiro para pagar os salários no fim do mês ou não. É preciso entender a importância disso e aos poucos trabalhar uma maneira de dar mais retorno ao parceiro que vá além da exposição 

Vou aproveitar para fazer uma confissão: eu não acho camisas 100% limpas tão agradáveis. Nasci nos anos 90, onde já era uma realidade consolidada clubes terem um patrocinador master estampando seus logos nos uniformes pelo Brasil. Eu não consigo desassociar o sucesso ou fracasso de grandes times com seus grandes parceiros que fizeram parte dessa caminhada: Kalunga e Corinthians de 90, Parmalat e seu Palmeiras mortal do meio e fim da década de 90, Unicor resgatando os tempos de glória com o Santos em 95 ou LG e São Paulo na histórica parceria com o time que ganhou quase tudo entre 2005 e 2008. Não dá para tirar a contribuição desses parceiros para com o sucesso desses clubes.

Não acho que Consul e DM9 fazem essa ação com o Juventus visando um futebol melhor. Se estivessem interessados em fazer algo pelo esporte, que mandassem um recado a altura: escolhessem um time com alcance nacional, na Série A ou B do brasileiro. Se o interesse é ajudar o Juventus, que também ajudem o clube a:

  • Organizar amistosos para celebrar seus 100 anos;
  • Façam o clube parte das ativações de novos produtos;
  • Troquem conhecimentos e melhores práticas de gestão;

Essas são poucas sugestões que me vieram a cabeça, mas tem uma infinidade de atividades que podem fazer para elevar o Juventus no ano do seu centenário. Se isso acontecer ao longo do ano, ótimo, é disso que o Juventus precisa para se reerguer no cenário do futebol paulista. Se ficar só na camisa limpa, o nada mais é do que uma manobra de PR de uma empresa que há muito tempo ficou distante do futebol.

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Murilo Marcondes Antonio é um executivo de estratégia e marketing com ampla vivência internacional. Formado em Gestão de Comércio Internacional pela UNICAMP, começou sua carreira em logística e supply chain. Em 2015 foi selecionado entre mais de 21.000 candidatos como trainee em Business Strategy para América Latina pela Samsung Electronics. Em 2019, ingressou na adidas em sua sede na Alemanha como Gerente de Projetos e teve a oportunidade de trabalhar com Eurocopa, Olimpíadas e Copa do Mundo, assumindo em 2022 a posição de Diretor de Estratégia e Execução na área de tecnologia da empresa. Apaixonado por esportes, concluiu o MBA em Sports Management pela Universidad Europea de Madrid, em parceria com o clube Real Madrid.

Nota do editor: os textos, fotos, vídeos, tabelas e outros materiais iconográficos publicados no espaço “opinião” não refletem necessariamente o pensamento do Sports MKT, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es) as informações, juízos de valor e conceitos divulgados.

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